sexta-feira, 11 de setembro de 2009

JORNALISMO PAGO É BOM OU MAU PARA O LEITOR?

O 10º Parágrafo do MANIFESTO INTERNET, na sua versão original, traz uma referência à Constituição Alemã. Segundo o texto, o Artigo 5º não contempla direitos protetores para profissões.

No Brasil, graças a decisão do STF, vivemos um período em que a exigência de diploma para o exercício da profissão de jornalista caiu. Obviamente, trata-se de um tema polêmico.

Dessa forma, gostaria que você, colega jornalista, desse sua opinião sobre o assunto. Haveria a necessidade de fazer alguma alteração no Parágrafo nº 10 do MANIFESTO INTERNET, para o caso brasileiro? Qual a distinção hoje do jornalismo pago e do não pago?

Segue o texto na íntegra da versão de Portugal (traduzida pelos jornalistas Pedro Teichgräber e Paulo Querido):

10. Hoje, liberdade de imprensa significa liberdade de opinião.
O Art. 5º da Constituição alemã não contempla direitos protectores para profissões ou modelos de negócio tecnicamente tradicionais. A internet ultrapassa as barreiras tecnológicas entre o amador e o profissional. É por isto que o privilégio da liberdade de imprensa se deve aplicar a todos os que possam contribuir para a concretização das tarefas jornalísticas. Em termos qualitativos, não deve ser feita distinção entre jornalismo pago e não pago, mas sim entre bom e mau jornalismo.

Participe e comente!

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

ÍNTEGRA DO "INTERNET MANIFESTO" (via Portugal)

O Internet Manifesto foi traduzido para o Português de Portugal pelos jornalistas Pedro Teichgräber e Paulo Querido.

Ela está reproduzida aqui e pode ser encontrada no site http://manifesto-internet.org/

1. A Internet é diferente.

Ela produz diferentes esferas de público, diferentes termos de troca e diferentes competências culturais. Os media têm de adaptar os seus métodos de trabalho à realidade tecnológica actual, em vez de a ignorarem ou desafiarem. É o seu dever desenvolverem a melhor forma possível de jornalismo, com base na tecnologia disponível. Isto inclui novos produtos e métodos jornalísticos.

2. A Internet é um império dos media tamanho de bolso.

A Internet reorganiza as estruturas dos media já existentes ao transcender os seus limites anteriores e oligopólios. A publicação e disseminação dos conteúdos já não estão ligados a investimentos avultados. A própria concepção do jornalismo está, felizmente, a ser esvaziada da sua função de guardiã. Tudo o que resta é a qualidade jornalística através da qual o jornalismo em si se distingue da mera publicação.

3. A Internet é a nossa sociedade é a Internet.

As plataformas com base na Web, como as redes sociais, Wikipedia ou o Youtube tornaram-se parte da vida diária para a maioria das pessoas no mundo ocidental. São tão acessíveis como o telefone ou a televisão. Se as empresas de comunicação social querem continuar a existir, têm de perceber a vida e o mundo dos utilizadores de hoje e têm de se render às suas formas de comunicação. Isto inclui formas básicas da comunicação social: ouvir e responder, também conhecido por diálogo.

4. A liberdade da Internet é inviolável.

A arquitectura aberta da Internet constitui a lei básica das Tecnologias da Informação, de uma sociedade que comunica de forma digital e, consequentemente, do jornalismo. Pode não ser alterada em nome da protecção especial de interesses comerciais ou políticos, muitas vezes escondidos sob a falsa pretensão do interesse público. Independentemente da forma como se faz, bloquear o acesso à Internet ameaça a livre circulação de informação e corrompe o nosso direito fundamental a um nível auto-determinado de informação.

5. A Internet é a vitória da informação.

Devido a tecnologia inadequada, as empresas de comunicação social, os centros de investigação, as instituições públicas e outras organizações compilavam e classificavam, até agora, a informação mundial. Hoje, qualquer cidadão pode definir o seu próprio filtro noticioso, enquanto os motores de busca mergulham em tesouros de informação de uma magnitude nunca antes conhecida. Os indivíduos podem agora informar-se melhor do que nunca.

6. A Internet muda melhora o jornalismo.

Através da Internet, o jornalismo pode cumprir o seu papel sócio-educativo de uma nova forma. Isto inclui a apresentação de informação como algo em constante mudança, num processo contínuo; o preço da inalterabilidade dos media impressos é um benefício. Aqueles que querem sobreviver neste novo mundo da informação precisam de um novo idealismo, novas ideias jornalísticas e de um sentido de prazer na exploração deste novo potencial.

7. A Internet requer gestão de ligações.

Ligações são conexões. Conhecemo-nos uns aos outros por ligações. Aqueles que não os utilizam excluem-se do discurso social. Isto também é válido para os sítios Web das empresas de comunicação social tradicionais.

8. Ligações recompensam, citações enfeitam.

Os motores de busca e os agregadores facilitam o jornalismo de qualidade: impulsionam a descoberta de conteúdos notáveis a longo prazo e são também parte integrante da nova, interligada esfera pública. As referências através de ligações e citações – incluindo especialmente as que são feitas sem qualquer autorização ou mesmo remuneração da autoria - possibilitam, em primeiro lugar, a própria cultura do discurso social em rede. São merecedores, pr todos os meios, de protecção.

9. A Internet é um novo palco para o discurso político.

A Democracia prospera com a participação e a liberdade de informação. Tranferir a discussão política dos meios tradicionais para a Internet e alargar este debate, pelo envolvimento da participação activa do público, é uma das novas tarefas do jornalismo.

10. Hoje, liberdade de imprensa significa liberdade de opinião.

O Art. 5º da Constituição alemã não contempla direitos protectores para profissões ou modelos de negócio tecnicamente tradicionais. A Internet ultrapassa as barreiras tecnológicas entre o amador e o profissional. É por isto que o privilégio da liberdade de imprensa se deve aplicar a todos os que possam contribuir para a concretização das tarefas jornalísticas. Em termos qualitativos, não deve ser feita distinção entre jornalismo pago e não pago, mas sim entre bom e mau jornalismo.

11. Mais é mais – não existe algo como demasiada informação.

Era uma vez, instituições como a Igreja davam prioridade ao poder sobre o conhecimento individual e avisaram que iria surgir um fluxo de informação transbordante quando foi inventada a imprensa. Por outro lado existiam os panfletários, enciclopedistas e jornalistas que provavam como mais informação leva a mais liberdade, ambas para o indivíduo como para a sociedade enquanto um todo. Até aos dias de hoje, nada mudou a este respeito.

12. A Tradição não é um modelo de negócio.

Pode-se ganhar dinheiro na Internet com conteúdos jornalísticos. Já existem muitos exemplos destes, hoje. Mas, porque a Internet é selvaticamente competitiva, os modelos de negócio têm de ser adaptados à estrutura da Net. Ninguém deve tentar esquivar-se desta adaptação essencial através da criação de políticas para preservar o status quo. O jornalismo precisa de concorrência livre para as melhores soluções de refinanciamento na Internet, a par de coragem para investir numa implementação multifacetada destas soluções.

13. Os direitos de autor tornam-se um dever cívico na Internet.

Os direitos de autor são o fundamento da organização da informação na Internet. Os direitos do autor sobre o tipo e espectro de disseminação dos conteúdos são também válidos para a Net. Ao mesmo tempo, os direitos de autor não podem ser utilizados de forma abusiva enquanto alavanca para salvaguardar mecanismos de distribuição obsoletos e para excluír novos modelos de distribuição ou esquemas de licenciamento. A propriedade implica obrigações.

14. A Internet tem muitas moedas.

Os serviços jornalísticos online financiados através de publicidade oferecem conteúdo em troca de um efeito de atenção. O tempo de um leitor, telespectador ou ouvinte é valioso. Na indústria do jornalismo esta correlação foi sempre um dos princípios fundamentais do financiamento. Outras formas de refinanciar, jornalisticamente justificáveis, têm de ser criadas e testadas.

15. O que está na Net fica na Net.

A Internet está a elevar o jornalismo para um novo nível qualitativo. Online, texto, som e imagens não têm mais de ser temporários. Permanecem acessíveis, ao mesmo tempo que constroem um arquivo da história contemporânea. O jornalismo tem de ter em conta o desenvolvimento da informação, a sua interpretação e os seus erros, isto é, tem de admitir os seus erros e corrigi-los de forma transparente.

16. A qualidade permanece a mais importante das qualidades.

A Internet exibe grandes quantidades de conteúdos homogéneos. Só aqueles que se destacam, que são credíveis e excepcionais, vão ganhar seguidores constantes a longo prazo. As exigências dos utilizadores aumentaram. O jornalismo tem de as satisfazer e continuar a seguir os seus próprios princípios frequentemente formulados.

17. Tudo para todos.

A Internet constitui uma infraestrutura para uma mudança social, superior à dos meios de comunicação de massa do Séc.XX: Quando tem uma dúvida, a "geração Wikipedia" é capaz de dar valor à credibilidade de uma fonte, é capaz de seguir a notícia até à sua fonte original, pesquisá-la, verificá-la e avaliá-la – sozinha ou como parte de um esforço conjunto. Os jornalistas que ignoram isto e que não querem respeitar estas competências não são levados a sério por estes utilizadores da Internet. E com razão. A Internet possibilita a comunicação directa com aqueles que eram conhecidos como receptores – leitores, ouvintes e espectadores – e permite tirar partido dos seus conhecimentos. Não são os jornalistas que sabem tudo que são procurados, mas sim aqueles que comunicam e investigam.

Internet, 08.09.2009

Versão para a língua portuguesa por Pedro Teichgräber e Paulo Querido

(Comentários em breve)

ÍNTEGRA DO "INTERNET MANIFESTO" (ENGLISH)

Segue a íntegra do INTERNET MANIFESTO, tal como publicado no site oficial. Estamos fazendo a tradução para o português. Quem quiser coloborar mande um e-mail pelo blog.

Internet Manifesto

How journalism works today. Seventeen declarations.

1. The Internet is different.

It produces different public spheres, different terms of trade and different cultural skills. The media must adapt their work methods to today’s technological reality instead of ignoring or challenging it. It is their duty to develop the best possible form of journalism based on the available technology. This includes new journalistic products and methods.
2. The Internet is a pocket-sized media empire.

The web rearranges existing media structures by transcending their former boundaries and oligopolies. The publication and dissemination of media contents are no longer tied to heavy investments. Journalism’s self-conception is—fortunately—being cured of its gatekeeping function. All that remains is the journalistic quality through which journalism distinguishes itself from mere publication.
3. The Internet is our society is the Internet.

Web-based platforms like social networks, Wikipedia or YouTube have become a part of everyday life for the majority of people in the western world. They are as accessible as the telephone or television. If media companies want to continue to exist, they must understand the lifeworld of today’s users and embrace their forms of communication. This includes basic forms of social communication: listening and responding, also known as dialog.
4. The freedom of the Internet is inviolable.

The Internet’s open architecture constitutes the basic IT law of a society which communicates digitally and, consequently, of journalism. It may not be modified for the sake of protecting the special commercial or political interests often hidden behind the pretense of public interest. Regardless of how it is done, blocking access to the Internet endangers the free flow of information and corrupts our fundamental right to a self-determined level of information.
5. The Internet is the victory of information.

Due to inadequate technology, media companies, research centers, public institutions and other organizations compiled and classified the world’s information up to now. Today every citizen can set up her own personal news filter while search engines tap into wealths of information of a magnitude never before known. Individuals can now inform themselves better than ever.
6. The Internet changes improves journalism.

Through the Internet, journalism can fulfill its social-educational role in a new way. This includes presenting information as an ever-changing, continual process; the forfeiture of print media’s inalterability is a benefit. Those who want to survive in this new world of information need a new idealism, new journalistic ideas and a sense of pleasure in exploiting this new potential.
7. The net requires networking.

Links are connections. We know each other through links. Those who do not use them exclude themselves from social discourse. This also holds for the websites of traditional media companies.
8. Links reward, citations adorn.

Search engines and aggregators facilitate quality journalism: they boost the findability of outstanding content over a long-term basis and are thus an integral part of the new, networked public sphere. References through links and citations—especially including those made without any consent or even remuneration of the originator—make the very culture of networked social discourse possible in the first place. They are by all means worthy of protection.
9. The Internet is the new venue for political discourse.

Democracy thrives on participation and freedom of information. Transferring the political discussion from traditional media to the Internet and expanding on this discussion by involving the active participation of the public is one of journalism’s new tasks.
10. Today’s freedom of the press means freedom of opinion.

Article 5 of the German Constitution does not comprise protective rights for professions or technically traditional business models. The Internet overrides the technological boundaries between the amateur and professional. This is why the privilege of freedom of the press must hold for anyone who can contribute to the fulfillment of journalistic duties. Qualitatively speaking, no differentiation should be made between paid and unpaid journalism, but rather, between good and poor journalism.
11. More is more – there is no such thing as too much information.

Once upon a time, institutions such as the church prioritized power over personal awareness and warned of an unsifted flood of information when the letterpress was invented. On the other hand were the pamphleteers, encyclopaedists and journalists who proved that more information leads to more freedom, both for the individual as well as society as a whole. To this day, nothing has changed in this respect.
12. Tradition is not a business model.

Money can be made on the Internet with journalistic content. There are many examples of this today already. Yet because the Internet is fiercely competitive, business models have to be adapted to the structure of the net. No one should try to abscond from this essential adaptation through policy-making geared to preserving the status quo. Journalism needs open competition for the best refinancing solutions on the net, along with the courage to invest in the multifaceted implementation of these solutions.
13. Copyright becomes a civic duty on the Internet.

Copyright is a cornerstone of information organization on the Internet. Originators’ rights to decide on the type and scope of dissemination of their contents are also valid on the net. At the same time, copyright may not be abused as a lever to safeguard obsolete supply mechanisms and shut out new distribution models or license schemes. Ownership entails obligations.
14. The Internet has many currencies.

Journalistic online services financed through adverts offer content in exchange for a pull effect. A reader’s, viewer’s or listener’s time is valuable. In the industry of journalism, this correlation has always been one of the fundamental tenets of financing. Other forms of refinancing which are journalistically justifiable need to be forged and tested.
15. What’s on the net stays on the net.

The Internet is lifting journalism to a new qualitative level. Online, text, sound and images no longer have to be transient. They remain retrievable, thus building an archive of contemporary history. Journalism must take the development of information, its interpretation and errors into account, i.e., it must admit its mistakes and correct them in a transparent manner.
16. Quality remains the most important quality.

The Internet debunks homogenous bulk goods. Only those who are outstanding, credible and exceptional will gain a steady following in the long run. Users’ demands have increased. Journalism must fulfill them and abide by its own frequently formulated principles.
17. All for all.

The web constitutes an infrastructure for social exchange superior to that of 20th century mass media: When in doubt, the “generation Wikipedia” is capable of appraising the credibility of a source, tracking news back to its original source, researching it, checking it and assessing it—alone or as part of a group effort. Journalists who snub this and are unwilling to respect these skills are not taken seriously by these Internet users. Rightly so. The Internet makes it possible to communicate directly with those once known as recipients—readers, listeners and viewers—and to take advantage of their knowledge. Not the journalists who know it all are in demand, but those who communicate and investigate.

LINKS DO "INTERNET MANIFESTO"

Os webjornalistas alemães saíram na frente, mostrando ao mundo que é preciso pensar o futuro da informação de uma maneira diferente.

Informe-se, visitando os endereços abaixo:

INTERNET MANIFESTO - http://www.internet-manifesto.org/

Matéria do The Guardian

Matéria do BlueBus, pelo Júlio Hungria

INTERNET MANIFESTO VERSÃO BRASIL

Amigos webjornalistas:

Nossos colegas na Alemanha lançaram o Internet Manifesto. Abre-se uma discussão necessária e urgente hoje para nossa profissão. As novas tecnologias mudam totalmente o jeito de praticar jornalismo e veicular informações.

Vamos repercutir a discussão e elaborar a versão brasileira do Manifesto.

Sua participação é muito importante. É a hora de colocar a boca no trombone.

Tagil Oliveira Ramos
Webjornalista, blogueiro e twitteiro